terça-feira, 11 de março de 2014

O Pardinho (Intertextualidade do livro: A Moreninha)

  Eu era negro, sim, tinha a cor mais escura do que qualquer pessoa que eu conhecia em toda a minha vida. E, isso nunca me incomodou, pois eu nasci para ser feliz e assim serei não deixarei que me desencorajem por eu ser diferente, eu sou vívido, eu sou jovial, assim, eu sou feliz.
   No ano de 2001, mesmo defronte com a minha contemporaneidade, eu ainda sofria preconceitos pela minha cor ser diferente das outras pessoas.
   Eu me chamo Carlos, mas todos me chamam de o ''pardinho''. Tinha pele parda, olhos castanhos, uma camiseta azul e bermuda vermelha. Eu estudava numa escola muito simples do Rio de Janeiro. E nela, eu fiz muitos amigos, inclusive uma bela moça que avistava ao meu alcance, seu nome era Augusta e tinha uma benevolência com aqueles que se encontravam ao seu redor. O seu compadecimento me fazia forte, me inspirava; eu a fitei e o dialogo começou.
- Bom dia - dizia ela com a voz mais fina e aguda que eu já pude escutar na minha vida. Uma voz equivalente ao canto de Bem-te-vis nas manhãs de sábado. 
   Eu já viajei muito com meus pais, que eram ricos, homens nobres de bondade sem igual. Apesar de eu ser um negro não significava que eu seria pobre, é um dos preconceitos relacionados as condições financeiras, além do racismo que eu sofria.
  Os professores da minha escola eram pobres e davam aula na minha escola que era particular. Nem sempre um educador é um soberano na escola na qual habitará, pois há a questão da crítica ao professor pelo péssimo ensino e a crítica as condições financeiras que ele possui. Vimos então, uma inversão de valores, os quais criam a discórdia de professores e alunos. Os estudantes criticam a forma de ensinar dos professores, o que realmente é um grande incomodo, e, quando os próprios mestre invertem os valores que, particularmente, seriam os certos a serem ensinados os alunos. Os valores os quais me refiro é a respeito do ensino criticamente correto, pois aquele ensino que segue em benefício do ''sistema'', que escraviza com trabalhos pouco assalariados  e as discrepâncias econômicas resultam na alienação desses estudantes. Por outro lado, se o aluno visasse os problemas no mundo e as verdades ocultas iriam a luta contra o sistema, o que aparentemente, é arriscado, porém abriria os olhos da verdade.
   Além disso, meus pais me deram uma educação rica em valores morais e éticos que me contagiava todos os dias. Eu aprendi com os meus pais as verdades as quais o colégio nunca ensinou. Verdades a respeito da sociedade manipuladora e maligna que se importa com os interesse econômicos, mais do que com os problemas que abrangem tudo que há no mundo. Eu me sentia a pessoa mais nobre do mundo, e isso era o que eles queriam. Eles queriam que eu soubesse que há verdades que valem a pena serem guardadas, com o intuito de, quem sabe um dia, eu faça que a justiça exista.
   Sempre que eu e Augusta, a menina que fitei anteriormente, nos víamos no colégio é como se dois meteoros chocassem entre si e se desintegrassem no espaço. Impressionantemente eu estava apaixonado por aquela linda moça de olhos castanhos e ela tinha os mais belos cabelos escuros presos em duas tranças e  uma linda calça longa colada. Eu fiquei envergonhado no começo, nunca havia falado com ela antes. Quando eu a encontrei eu dei partida ao papo.
  -  Bom dia Augusta, como tu está? - inquiri-lhe. 
  - Eu ando bem. É bom vê-lo Carlos, além disso, diga-me! Qual a honra desta bela conversa? 
  - Bem... Quer dar uma volta? Eu sou seu colega de classe e queria conhecê-la melhor. 
  - É muito gentil de sua parte, mas eu não posso. É que meu irmão me proíbe de sair com qualquer um. 
   Da pra acreditar? O irmão dela o proibia de buscar sua própria felicidade ao lado das outras pessoas. Que safado! Eu tive vontade de perguntá-la onde ele estava e eis que ele aparece. Um jovem muito alto, com um uniforme de aluno do ensino médio, cabelos louros e olhos verdes.
   - Ei, vocês. Garotos do fundamental; vocês não vão deixar a minha irmã em paz? - disse ele.
   - Quem é você? - perguntei-lhe.
   - Eu sou Cesar, irmão de Augusta, a menina que estás paquerando - retrucou-o.
   - Eu não quero me aproveitar de sua irmã, eu apenas quero a sua amizade.
   - Mentira - bradou Cesar. 
  - Parem vocês dois! Ei Cesar, o Carlos é um bom rapaz - disse Augusta. - Ele está quase no fim do ensino fundamental, tem quinze anos, e ele sofre racismo todos os dias pela sua turma. Veja como ele é um rapaz forte, agüenta as dores que sofre todos os dias sem desistir nunca. 
   Cesar ao ouvir a conversa de sua irmã sente-se cabisbaixo por ter se enganado a respeito de Carlos. Ele pensou que o garoto quisesse aproveitar-se de sua irmã, mas era nada mais que uma amizade inocente.
   - Certo! Sinto muito Carlos, eu fui um idiota. Sejamos amigos? Por favor? - implorou Cesar.
   - Claro que sim, meu amigo. Todavia, eu quero ir à casa de vocês, enfim eu já que tenho novos amigos para curtir a vida - disse Carlos empolgado.
   Eles riram não de deboche, mas ao meu lado como se fossem meus grandes amigos. Era uma alegria; naquela hora eu percebi que pela primeira vez eu estava sendo respeitado e amado. Eu reflito novamente a respeito do ''sistema'' se as diferenças fossem tratadas pelo uso do respeito acho que o mundo teria muitas conquistas, dessa forma ali pensei. Não é através da uniformização de raças que se cria um mundo melhor. Explicarei-lhe, leitor, de uma forma mais simples: por exemplo, a mídia, ultimamente, mostrou em novelas beijos gays com o intuito do incentivo a prática homossexual, se o certo era ensinar as pessoas a respeita. Esse tipo de ação criou muitas polêmicas e discussões com baixa visão de mundo por parte das pessoas, deste modo, penso que '' esse texto está valendo a pena''.
   Ao caminhar pelas ruas da cidade na direção da casa de Augusta e Cesar, avisto um garoto fumando maconha perto de um muro. Ele tinha olhos vermelhos preenchidos pelas várias noites sem conseguir dormir, lábios secos entregues ao vício sublime da droga; também ele tinha pele amarelada e magreza extrema. Aquele era meu amigo de infância, Fábio, um garoto que terminou o ensino médio, porém perdeu os pais logo depois que ele se formava. Algum tempo depois ele perdeu sua namorada para um babaca que parecia ser rico. Naquela época eu não aceitava o sofrimento pelo qual Fábio sofria, então decidi ajudá-lo.
   - Fábio! - gritei para ele.
   A metodologia para as dores que sofremos é relevante a superação. Mas de que modo podemos superar as nossas dores? É com o apoio, a compaixão que sentimos pelos nossos semelhantes e, apesar de nossas diferenças, ainda podemos fazer nossa parte. Os métodos são: cooperação; compaixão; apoio; superação, dentre outras infinitas que eu poderia citar.
   Meus amigos correram atrás de mim para ver o que estava acontecendo e eu lhes contei toda a história, e virei meus olhos fixamente para o garoto que já não conseguia ergue-se em pé.
   - Escute meu amigo! Você precisa se tratar. Veja, você está magro e hei que lhe digo que precisas se alimentar. Largue esse bendito vício maldito - implorei-lhe.
   - Se você tivesse perdido tudo tu estarias na mesma situação que eu. Tu não sabes de nada! Eu não quero ouvir conselhos de você - disse Fábio olhando para o céu infinito e azul.
   - Olhe! Tu achas que eu não passo por dificuldades como tu? Claro que passo. Ouça, todos nós sofremos uma vez na vida. Porém, se nós erguemos as nossas cabeças e continuarmos lutando contra os desafios da vida, seremos capazes de tudo, entendes?
   - Sim eu entendo! - então meu amigo, o Fabio, levanta-se e segura minha mão.
   Nós o levamos para uma clínica de reabilitação, donde ele se recuperaria e seguiria em frente na sua vida. 
   Depois disso, fomos a casa dos meus amigos, e nós estávamos morrendo de fome. Eu liguei aos meus pais e disse que passaria uns dias na casa deles.
   - Por que demoraram tanto tempo seus pestinhas?- inquiriu a Dona Chica, avó de Augusta e Cesar.
   - Desculpem-nos a demora! Eu estava ajudando um grande amigo - disse Augusta sorrindo para mim, e seu irmão rindo junto.
    - Muito bem! Entrem, antes que morram de fome. Depois quero que me contem toda a história.
   Contamos toda a história para a Dona Chica, e logo se percebe os olhos de espanto e ao mesmo tempo de incandescente brilho. O orgulho sentido por ela melhorou o seu humor rabugentos de algumas horas atrás e se viu esperançosa a respeito do futuro de seus netos e, principalmente, a mim.    
    - Eu estou muito orgulhosa de vocês três - disse D. Chica encantada -, meus parabéns!
     - Obrigado! - nós agradecemos!
    D.Chica era uma mulher simpática, porém muito rabugenta ao mesmo tempo. Ela tinha longos cabelos brancos presos num coque, rosto enrugado como um limão que foi torcido por muito tempo, e também tinha olhos azuis como os mares da ilha de Paquetá.
   
                                                                    -

   Chegou a noite enquanto Cesar lia um belo livro chamado A Moreninha, eu e Augusta contemplávamos as estrelas no céu, ela olhou para mim fixamente e me beijou logo em seguida. Foi um beijo rápido, um sonho, até chegar o dia seguinte.
   - Venham rápido! - disse Dona Chica na manhã seguinte.
   - O que aconteceu? - indaguei-lhe.
   - Meu deus!  Augusta está doente, de cama, chamamos um médico e ele disse que ela está com AIDS.
   Foi como um meteoro que se chocava contra o nosso planeta ao invés de outro meteoro semelhante. Ontem, eu vivia um sonho, agora a realidade perpassava a minha mente como um vulto de tão rápido que era. Aquilo era equivalente a um neurotransmissor que alcançava os confins do meu cérebro. A minha amada morreria logo se não a cuidassem, e também haveria a chance de eu ter contraído a doença. Meu deus foi tantos sentimentos ruins que me fizeram chorar noites e noites.
   
                                                                      -

   Passaram-se muitos meses, e eu visitara a minha querida no hospital naquele dia. O piso do hospital estava mais frio do que antes, quando eu olhava a minha volta observava doutores levando pacientes gravemente feridos para salva-los, era como se eu estivesse ao encontro do, Inferno de Dante. Tudo que eu avistava lá era apenas a morte em busca de suas vítimas, e minha querida Augusta seria a próxima.
   - Agüente firme, meu amor! Você é forte e ficarás bem, eu sei - disse eu chorando muito.
   - Querido, você precisa viver sem mim - declarou ela -, além disso, és um homem audacioso que não se deixa abalar por nada, é por isso que me apaixonei por você. Seja feliz ao lado de outra moça, uma que lhe agrade, e que te ame eternamente.
   A mão que estava unida a minha soltava-se lentamente, a minha amada morria naquela noite de chuva. Eu caia na melancolia eterna, nunca sofrera tanto na minha vida. Quando de repente, encontro o doutor e peço-lhe para fazer um exame em mim. No momento que ele chegava com o exame em mãos ele logo me disse que eu também tinha contraído o vírus através de uma relação sexual que tive com Augusta, e agora estava um pé na sepultura.
   Mais alguns longos se passaram e eu estava de cama, meus pais me visitavam toda hora. Dona Chica trazia ervas e bolinhos, pois achava que com mais comida podia curar um moribundo. Pobre velha inocente, ela tentava me ajudar mas não percebia que eu estava caído; imobilizado e sem esperanças, até que um grande amigo aparece, sim, Fábio voltara recuperado e vinha vê-me. 
   - Você não está nada bem! - perguntou ele.
   - É verdade, mas antes que eu morra lhe peço um ultimo desejo. Contem a todos os novos amigos que fizeres sobre a história de vida e superação que tive, eu sou um cara forte e agüentei tudo de cabeça erguida e com a mão no coração, faça isso por mim por favor.
   E então, Fábio segurava a minha mão chorando muito, dizendo que eu iria sobreviver. Ele que antes perdia todas as esperanças, agora que se recuperava do vicio das drogas graças a mim e meus amigos e ele sabia que não poderia abandonar a fé nunca mais. Eu tentei superar a doença de todas as formas possíveis, quando meus pais me visitaram no hospital continuaram me passando forças para que eu continuasse vivo e lutasse contra a doença, porém os doutores percebiam o agravamento de minha doença e que eu morreria.
   Eu escrevi tudo que acabares de lê, leitor, eu estou morrendo e este é o meu ultimo suspiro. Peço-lhes que divulguem a minha história e que se tornem parte da vida de vocês, eu fui um jovem que lutou contra o medo, a morte e a dor. Agora fui abatido para descobrir os prazeres de uma nova vida no paraíso. 

 
'' O respeito vem da aceitação do próximo, se nós aprendermos a respeitar logo estaremos aceitando que vive ao nosso lado. Essa é a lei básica da vida, o amor também vem dessa aceitação; o respeitar é o correto para que a sociedade siga seu curso com justiça e honra. Nada na vida vale mais que nossos valores, nem mesmo o dinheiro, que nos entrega a eterna cobiça. Eu prefiro ser um defunto bom do que um bom defunto (pessoa que morreu por nada). Eu vivi por algo que valia a pena: ''os meus amigos e minha família ''.


Autor: Franklin Furtado Ieck


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