domingo, 9 de março de 2014

O Robô Benevolente

   Eu vivia numa época em que os robôs estavam sendo produzidos. Eu fui uma das primeiras gerações de robôs do mundo. O ano era 3000 d.D (depois do Rei Darius) e o mundo presenciava a evolução da raça humana por tecnologias absolutamente avançadas. Porém a únicas raças que restaram nessa época foram de alguns mamíferos e, principalmente, os humanos e suas extinções seriam imediatas se eles não agissem, mais uma vez, os humanos desvalorizam aquilo que lhes dão a vida e futuramente sofrerão as conseqüências.   
   Enfim eu sempre quis entender o que leva os seres humanos a sofrerem. Eu não sei dizer, ás vezes eu me sinto confuso e me questiono. Que sentimentos eles carregam? Eu já não podia entender, pois eu era um robô. Meu criador me fez antes de morrer. Ele foi infectado por um vírus mortal e acabou falecendo.  O meu mestre era um homem de um intelecto muito alto e ele me limpava e trocava meu óleo todos os dias, e eu sempre me sentia muito aliviado por ele cuidar de mim o tempo inteiro. Eu aprendi sozinho a interagir com outros seres humanos, e quando ele morreu, eu fui levado por duas pessoas que cuidaram de mim e me deram um lar. E mesmo eu não sendo humano eu fui muito bem aceito por eles. Eles eram pessoas nobres e com uma renda média de dinheiro muito boa, e muito meigos de espírito com um coração do tamanho da Torre Eiffel. 
   A fabulosa Yara, cabelos loiros soltos, com olhos castanhos e um lindo sorriso, e uma pele branca igual à neve. Ela tinha 40 anos, porém sua beleza interior era jovial que escondia uma inocente capacidade de amar, algo que eu não entendia, pois eu era um robô. A sua filha, Alicia, tinha 18 anos e tinha cabelos escuros soltos, sardas pelo rosto branco e jovial. O que a moça sardenta mais gosta de fazer é escutar musicas, jogar vídeo game e fazer novos amigos. Por alguns dias, a menina olhava para meu rosto e se surpreendia. Na verdade, quando eu fui criado, eu utilizava uma pele artificial idêntica ao dos humanos: Eu tenho olhos castanhos, pele branca com uma tonalidade um pouco mais forte e tinha sardas pelo nariz.
   - Realmente o tempo está ficando quente, sorte que achamos essa base aqui blindada com muita água e suprimentos em caso você, sua família e amigos queiram sobrevier - argumentei com Yara -, o mundo anda um caos ultimamente. Não era o mesmo mundo que meu mestre Mario dizia que era - eu não entendo.
   - É meu filho! Você nasceu na época errada, o mundo na era d.C, mais conhecida como a depois de Cristo, foi conhecida como a era da alegria, pois antes apesar de haver muitas desigualdades muitas pessoas tinham liberdade de viver, pois, comparado a hoje tudo parece que entrou em um extremo caos.
   - Quem é Jesus, senhorita Yara? - curioso eu lhe inquiri a respeito desse tal homem.
   - Quando morreres logo tu entenderá; você lembra que tem um objetivo na vida Robô, não é ?
    - Sim eu tenho! 
    Logo eu olhei pela janela da base a qual nós estávamos, e avistei pessoas correndo desesperadamente não suportando o calor que queimava suas peles e a fome e sede que secavam suas gargantas os levando ao sofrimento eterno. Eu assistia a morte de crianças do topo gritando e chorando. Eu observava homens com suas armas matando uns aos outros sem antes pensarem no que estavam fazendo e naquele momento eu considerava a idéia de desespero humano que eu avistava de longe. 
   - Você acha isso certo Yara? - eu lhe inquiri -, pessoas estão morrendo lá fora e de alguma forma eu vejo e não aceito esse tipo de coisa e veja, eu não sou humano mas eu sinto a sensação de que isso não é certo.
   - É o castigo aos ratos que amaldiçoaram esse planeta por muitos anos, o destruindo, o poluindo, o desmanchando com cobiça e maldade. Esse é o mundo de agora, o juízo final, a redenção espiritual, a qual todos se juntaram e alcançarão a Deus. 
    Eu sentia uma sensação estranha, logo eu saio da base correndo sem escutar a voz de Yara me intervindo. Eu me apressei e tentei salvar uma das meninas na rua, porém o calor queimava a minha armadura aos poucos  e ela em contato com a pele da criança queimava mais, eu agarrei a menina e a levei para base, inusitadamente ela me disse um nome lindo e um sobrenome familiar, Sasha Castro Alves Johnson, que por algum motivo misterioso o sobrenome estava gravado no meu HD.

                                                                -

   As duas moças me acolheram e me levaram para dentro, logo eu pude ser consertado e aliviado. As mãe e filhas eram muito tímidas, trabalham muito para ter uma vida feliz e muito promissora. O pai de Alicia e marido de Yara, foi trabalhar no exterior com o intuito de adquirir uma oportunidade de emprego para família conseguir um bom dinheiro e nunca mais voltou, talvez o pobre homem tenha morrido quando o inferno veio a terra. Outro sentimento que eu colocava em questão era a respeito da saudade. Eu não entendia os sentimentos humanos, não sabia o que tinha de tão especial em um toque gentil, um cafuné ou um abraço, coisas que eu não compreendia, mas com o tempo eu fui me acostumando até que eu e a Alicia tivemos uma longa conversa:
   - Minha jovem, diga-me: você tem um namorado? - eu lhe inquiri -, é apenas uma curiosidade. Eu guardo o relatório e as informações de todos os meus donos e mantenho no meu sistema de memórias.
   Alicia estranhou! A menina fez uma cara de surpresa e depois riu de mim como se fosse um deboche, eu então perguntei à ela:
   - Qual a graça? - indaguei-lhe. 
   - Eu tenho namorado! Eu ri do que tu disseste antes, amigo robô. Se queres parecer com nós humanos precisas usar gestos mais educados, tais como: ''hoje é um belo dia para contemplar o brilho radiante do sol.''
   - Mas qual o sentindo de observar uma bola de energia que garante a nossa sobrevivência, digo, apenas a de vocês humanos, pois eu não preciso do sol para sobreviver e apenas a minha pele artificial morreria, mas minha carapaça robótica permaneceria existente. Eu sou uma forma de vida que depende de óleo para sobreviver e se vocês morrerem eu também deixarei de existir pois não haverá ninguém que me forneça o óleo.
   - Robô! ouça-me por um instante - disse ela -, você precisa enxergar beleza nas coisas, zoar as coisas mais estúpidas que veres, assim serás um humano. Enquanto você estiver preso a dados que corresponde a informações cerebrais você será um recluso.
   - Você tem toda razão, porém eu tenho um sonho...
   Eu não contei a Alicia antes, mas meu sonho era ter uma alma humana. Dizem que nela guardam-se todos os sentimentos de amor e ódio e por isso eu me sentia incapacitado de amar e era algo normal para outros seres viventes do planeta. Eu contei a história à ela, e ela se surpreendeu.
   - Eu entendo Robô, mas um dia terás uma alma. Se você aprender a amar como um ser humano uma luz nascerá de seu peito e ela será o seu bem maior. Valorize o que há dentro de si e aquilo nascerá o que temos por fora logo murchará e fica feio, mas a nossa alma é eterna, é bela.
   Foram às palavras mais lindas que eu já ouvi, eu programei meu cérebro eletrônico para sorrir os lábios de meu rosto, foi a primeira vez que eu sorrir, a mercê de meu corpo imperfeito. Contudo, eu sempre excluía dados do meu sistema que se correspondem aos sentimentos ruins, eu apenas aprendia a amar.
   Após muitos pensamentos e valores adquiridos da raça humana eu não fiquei parado como um robô serviçal, e sai pelas ruas salvando todas as pessoas que eram impedidas pelos guardas de entrarem na base, a qual refletia a luz solar de volta para a atmosfera. Eu pressentia que o calor logo aumentaria e aquela base desmancharia, porém, eu não desisti, eu queria garantir a salvação de muitas pessoas vivas antes do apocalipse.   

                                                                    -

    Quando eu subi no altar e peguei o microfone para me comunicar com todos os humanos sobre a ameaça inevitável eu quis sensibilizá-los de que tudo daria certo e que não era para terem pânico. 
   - Vivemos aqui durante muitas eras e ainda estamos vivos! Vejam, ouçam a minha voz. Essa é a vitória dos seres humanos que alcançam o triunfo e das inúmeras conquistas na criação desse mundo, apesar das desigualdades e horrores, de alguma forma, com a minha eu pude trazer toda a raça humana que restou para essa base, de todos os países, agora estamos unidos. Pela primeira vez estamos unidos; a união é uma façanha nunca alcançada pela humanidade, viva a nós.
   - Vivos - E os gritos de viva atravessam o globo criando a certeza de que não importa se somos vivos ou mortos. Estivemos vivos aqui e criamos muita história, é o que faz desse mundo fruto da existência humana.   
   Passaram-se muitos anos e nesse tempo a família de Alicia cresci muito, eu a vi morrer pouco depois de sua mãe. Eu vi suas filhas, suas netas, suas bisnetas e, sucessivamente, observei o mundo regredir muito. O homem destruiu completamente a natureza, os humanos foram extintos junto com outras formas de vida, pois o sol também havia morrido de uma forma inesperada. Apenas restei eu vivo. Eu estava sem óleo, e eu seria automaticamente desligado até que eu dou meu ultimo suspiro.
   - Eu aprendi a amar durante esse tempo eu conheci uma moça, eu me apaixonei por ela, porém morreu sessenta anos depois, pena que ela não reconheceu, não é Alicia. Eu fui o único robô do mundo que se apaixonou por uma humana. Eu fui o único robô que encontrou a verdadeira força para viver e aprendeu a amar. Eu estou feliz, eu acho que consegui o que tanto queria, depois do recluso tempo que estive alienado em códigos fontes que me mantinham vivo, agora eu sou livre e disso eu sei.
   O meu sistema se apagou. Naquele momento eu pensei que era o fim até que ouço uma benevolente voz que me agarrou com força e disse:
   - Bem vindo de volta - disse Yara, mãe de Alicia -, eu estou feliz em vê-lo Robô, parece que você ganhou sua alma, nos lhe dissemos que conseguirias.
   - Obrigado por tudo, todos vocês, amigos que me deram forças para que eu obtivesse uma vida normal que nem à de vocês. Eu estou muito feliz - disse-lhe à todos os integrantes da família que lá estavam.
   - Meus parabéns, minha grande invenção - disse meu mestre, meu criador, meu pai.
   - Pai. Você também está aqui? - perguntei-lhe.
   - Sim eu estou aqui! Eu o criei com o propósito de aprenderes com os seres humanos, e parece que foste capaz de muitas coisas incríveis, eu estou encantado de estar em presença de um ser tão forte e inteligente como você, Robô. Me diga, o que aprendeste em toda a sua vida?
   Foi uma pergunta simples! Eu aprendi muitas coisas enquanto estive envolto na exuberante vida terrestre. Eu compreendi que podemos conseguir qualquer coisa se lutarmos. Aprendi que a vida não se baseia apenas em conhecimentos profundos, não, são lições de vidas que são acompanhadas quando somos aptos a por os pés na rua e encarar a vida, com muitas brincadeiras na infância e momentos de prazer e harmonia na fase adulta. Eu amei e vivi, agora eu fui libertado. Finalmente eu estou ao lado das pessoas que me fazem bem, os meus amigos, a minha harmoniosa família.

Autor: Franklin Furtado Ieck

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